A
criança
bipolar
Para saber se uma criança apresenta o Transtorno
Afetivo Bipolar (TAB) é importante evitar justificar alguns comportamentos que
podem revelar a doença. Há crianças que nascem mais animadas, com temperamento
mais eufórico, com muita energia e criatividade, porém se adaptam bem ao
meio-ambiente familiar ou escolar, não causando nenhum transtorno para ela mesma
e/ou para os outros. São normais. Por outro lado, se ela é super-irritável,
variando repentinamente entre a euforia e a tristeza, entre o desânimo e a
hiperatividade (agitação), tendo falta de sono, sem ter nada que explique isto,
e se já houve casos de TAB ou depressão séria em algum membro da família, os
pais devem procurar orientação médica.
Pode ser mais difícil diagnosticar
esta doença na infância porque geralmente pais e professores parecem encontrar
uma “causa” para a criança estar eufórica ou depressiva. Surgem explicações
lógicas, mas nem tudo o que é lógico é normal. Um adulto que trabalha
euforicamente por anos, com pouco ou nenhum episódio depressivo, dificilmente
também alguém poderá considerá-lo Bipolar Tipo II (veja artigo anterior), porque
pode se tratar de uma pessoa “muito produtiva e empreendedora".
Apesar de não existirem testes padronizados para
a Desordem Bipolar, o Dr. Valentim Gentil Filho, professor de psiquiatria da
Universidade de São Paulo, cita um adaptado do livro “The Bipolar Child” (“A
Criança Bipolar”), o qual reproduzo abaixo e que pode servir de alerta para os
pais, professores ou outros cuidadores das crianças.
Assinale os comportamentos que a criança
apresenta ou apresentou no passado. Se você assinalar mais de 20 itens, ela
deveria ser examinada por um profissional da área.
A criança:
1- Fica aflita demais quando separada da
família
2- Demonstra ansiedade ou preocupação
excessiva
3- Tem dificuldade para levantar-se pela
manhã
4- Fica hiperativa e excitável à tarde
5- Tem sono agitado ou dificuldade para conciliar
o sono6- 6-Tem terror noturno ou acorda muitas vezes no
meio da noite
7- Não consegue concentrar-se na escola
8- Tem caligrafia pobre
9- Tem dificuldade em organizar tarefas
10- Tem dificuldade em fazer transições
11- Reclama de sentir-se aborrecida
12- Tem muitas idéias ao mesmo tempo
13- É muito intuitiva ou muito criativa
14- Distrai-se facilmente com estímulos
externos
15- Tem períodos em que fala excessiva e muito
rapidamente
16- É voluntariosa e recusa-se a ser
subordinada
17- Manifesta períodos de extrema
hiperatividade
18- Tem mudanças de humor bruscas e rápidas
19- Tem estados de humor irritável
20- Tem estados de humor vertiginosamente alegres
ou tolos
21- Tem idéias exageradas sobre si mesma ou suas
habilidades
22- Exibe um comportamento sexual
inapropriado
23- Sente-se facilmente criticada ou
rejeitada
24- Tem pouca iniciativa
25- Tem períodos de pouca energia, ou alheamento,
ou se isola
26- Tem períodos de dúvida sobre si mesma ou de
baixa estima
27- Não tolera demoras ou atrasos
28- Persegue obstinadamente suas próprias
necessidades
29- Discute com adultos ou é mandona
30- Desafia ou se recusa a cumprir regras
31- Culpa os outros por seus erros
32- Enerva-se facilmente quando as pessoas impõem
limites
33- Mente para evitar as conseqüências de seus
atos
34- Tem acessos de raiva ou fúria explosivos e
prolongados
35- Tem destruído bens intencionalmente
36- Insulta cruelmente com raiva
37- Calmamente faz ameaças contra outros ou
contra si mesma
38- Já fez claras ameaças de suicídio
39- É fascinada por sangue ou coágulos
40- Já viu ou ouviu alucinações
Quanto ao tratamento do Transtorno Afetivo
Bipolar, o mesmo deve ser feito por médico psiquiatra e envolve o seguinte:
1)Medicamentos: antidepressivos, estabilizadores
do humor, lítio, às vezes neurolépticos. Lembre-se: os mesmos medicamentos
produzem resultados diferentes para pessoas diferentes e NÃO devem ser tomados
sem prescrição médica. O lítio é altamente tóxico, embora com bons resultados
para várias pessoas na fase eufórica. O médico responsável pelo tratamento
deverá solicitar periodicamente exames de sangue para o controle do nível do
lítio no sangue, buscando uma dosagem eficaz. Se for acima de 1.2mEq/l, pode
causar intoxicação grave. Se for abaixo de 0.6mEq/l pode ser ineficaz. Não se
automedique. Não tome medicamentos sugeridos por pessoas leigas, mesmo que elas
ou conhecidos delas tenham obtido bons resultados.
Cafeína (bebidas com “cola”, “energizantes”),
cocaína, anfetaminas (usadas ou não em “fórmulas para emagrecer”) podem
desencadear a doença bipolar, entre outros distúrbios mentais. Anti-depressivos
podem levar a pessoa para o pólo eufórico.
2)Psicoterapia – feita por psicólogo clínico ou
psiquiatra, geralmente é ineficaz nas fases maníacas especialmente do Bipolar
Tipo I porque a pessoa está refratária a qualquer conselho, advertência e
psicoterapia. Ela poderá ser útil na fase depressiva, como orientação
profissional no período inter-crises, e em quadros muito leves eufóricos. A
terapia e aconselhamento familiar são úteis também.
3)Mudanças no estilo de
vida – aceitar as limitações; eliminar o consumo de substâncias nocivas à saúde
como o café e outras bebidas com cafeína; não ingerir nenhuma bebida alcoólica;
ter horários fixos para alimentar-se; tomar três refeições ao dia (um farto
desjejum, bom almoço, jantar leve 3 horas antes de dormir); intervalo de 5 horas
entre uma refeição e outra; tomar muita água pura nos intervalos; caminhar pelo
menos 30 minutos por dia, cinco vezes por semana; dormir em horário regular
antes das 23h, adotar uma dieta preferencialmente vegetariana evitando produtos
de origem animal; melhorar o contato afetivo com as pessoas, desenvolver uma
filosofia espiritual na vida. Estudos científicos mostram que os que praticam
uma fé religiosa têm melhores resultados na saúde em geral.
Cesar Vasconcellos de Souza –Médico
Psiquiatra
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